quinta-feira, 22 de maio de 2008

Resenha: Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

Livro: Admirável Mundo Novo
Autor: Aldous Huxley
Categoria: Literatura Distópica
Ano de publicação: 1932

Admirável Mundo Novo

Utopia é um termo inventado por Thomas More, que foi utilizado como título de uma de suas obras. Segundo historiados, More se fascinou com as narrações de Américo Vespúcio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503, e decidiu então escrever sobre um lugar inexistente, novo, puro e fantástico onde existiria uma sociedade perfeita.

Em contraposição à utopia, temos a distopia, que propõe uma ficção retratando uma antítese à utopia. Na literatura distópica, comumente há abordagens de uma visão futurista do autor, que vem como traços de nanquim aos tristes esboços que já são presentes no modelo social atual tais como a exploração da estupidez coletiva, poder nas mãos de governantes nada fraternos, a busca do conformismo e aceitação pelas massas pelo bem-estar da ordem e da economia. Trabalhos como “V de Vingança” e “Laranja Mecânica” expressam muito bem este pensamento, e é neste nicho literário se destaca o livro “Admirável Mundo Novo”, escrito no período entre guerras, mais precisamente em 1932, pelo preocupado escritor inglês Aldous Huxley.

Huxley nasceu em 1884, e começou sua carreira literária nos anos 20 com o livro “Amarelo Cromo”. Na década seguinte o autor se muda para a França, país que testemunhou o surgimento de “Admirável Mundo Novo”, seu romance mais famoso.

A história de Admirável Mundo Novo se passa no ano 2540 d.C, mas para Bernard Marx e para os demais personagens do enredo, o ano é 632 d.F. “632 depois de Ford – aquele das linhas de produção de automóveis - quando o amor é proibido e o sexo estimulado”. É assim o futuro para Huxley; ao invés de Jesus, o messias é Henry Ford, ao invés de países, temos um mundo dividido por 10 regiões administrativas. Ao invés de famílias, temos indivíduos desenvolvidos em provetas industriais, que são manipulados desde sua pseudo-gestação para serem felizes atendendo as necessidades do estado, mantendo a ordem do mesmo e não necessitando nada que ponha essa segurança em risco. Casamento, amor, arte, velhice, doenças e tristeza são coisas do passado e neste momento todos os indivíduos Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ípslons não sentem falta da sua então desconhecida individualidade . Devido ao método hipnopédico (repetição de frases durante o sono), não se importam com isso, até porque com exceção dos Alfas e Betas, todos os demais indivíduos que compõe a sociedade são gerados a partir de embriões que se dividem e produzem cerca de oitenta pessoas semelhantes que juntas compartilharão sua infância para serem preparadas para manter o lema “comunidade, identidade e estabilidade”.

Cada indivíduo destas castas é submetido além do método hipnopédico, a métodos de condicionamento para garantir que cumpra suas funções e se satisfaça com as mesmas. Mesmo os Ipslons, responsáveis exclusivamente pelo trabalho braçal, sentem-se plenamente satisfeitos por viver operando elevadores ou realizar alguma outra tarefa monotonamente semelhante. Se por acaso houver algum momento de insatisfação, não há mais necessidade de se embriagar com álcool ou alguma droga ilícita, em 632 d.F. o estado é amigo de todos e já existe o soma, droga lícita distribuída pelo próprio governo, que traz uma sensação plena de felicidade e satisfação, e conseqüentemente estabilidade para o sistema.

A história se inicia com Bernard Marx, um Alfa que apresenta problemas de auto-estima por ser fisicamente inferior aos demais de sua casta devido a um trauma enquanto embrião. Bernard se incomoda por sentir-se solitário em uma sociedade onde “todos são de todos” e tentando compreender suas diferentes necessidades, sai de Londres e parte com Lenina Crowe para uma reserva de selvagens onde tribos de índios americanos ainda vivem como antigamente, pelo fato de não ter sido economicamente interessante para as ordens mundiais adequá-los ao estilo de vida do Admirável Mundo Novo.

Em meio aos selvagens e seus estranhos comportamentos, Bernard Marx encontra uma Beta chamada Linda, que há anos estava de passeio pela reserva e se perdeu por lá. Linda apresenta seu selvagem filho John para Marx, que interessado na fama que isso pode lhe trazer, leva o jovem para a “civilização”, e descobrimos como uma pessoa acostumada com monogamia, cultura e liberdade de expressão lida com o Admirável Mundo Novo que sua mãe tanto lhe falou com orgulho a vida inteira, mas que de Admirável parece ter apenas a geneticamente programada beleza exterior das mulheres.

O livro propõe inúmeros questionamentos, entre eles a importância da essência humana e da subjetividade como veículo de participação ativa no meio. No enredo temos uma sociedade supostamente mais feliz e satisfeita que a atual, nada descontente com o estado e distantes dos males econômicos que assolam os nossos tempos. Tudo tem seu preço, e para Huxley, essa satisfação custa o sacrifício da cultura, da personalidade e do afeto, sacrifícios estes que em 1932 já preocuparam o autor, e que agora 76 anos depois, preocupa também seus milhões de leitores.

A idiotização e manipulação das massas mesmo ainda sem métodos hipnopédicos, já conseguem imbecilizar o coletivo através de mídias televisivas e impressas e estampar estereótipos no nosso cotidiano que viram sonho de quem os percebe. Desta forma condiciona a população a sacrificar suas maiores virtudes, sacrificar sua essência, e isso parece cada vez fazer menos falta, afinal de contas para a economia mundial é muito melhor você ter o carro do ano e a roupa de marca daquele ator da novela do que o amor do próximo, ou até mesmo um amigo não é mesmo? Você nada mais é que uma marionete do sistema, assim como todos que você conhece e admira. Agora te pergunto, se todos continuarem pensando dessa forma, até quando este distópico Admirável Mundo Novo de Huxley será apenas uma ficção?

A verdade é a pior mentira que existe

Porque você veio ler esse primeiro post? Sabe me dizer o porquê dessa sua curiosidade? Fico feliz, pelo menos você quer mudar algo. Fico feliz por você ter lido isso, entendo que talvez o que eu ando escrevendo interessa a outros loucos além de mim.

Já que você chegou até aqui, a primeira coisa que quero que saiba é que essa foto aí do lado está sendo meu papel de parede há alguns dias, e foi essa menina linda que sugeriu o nome deste blog. Você quer saber o porquê? Eu também quero.

Até quando ela vai ser meu papel de parede? Se quando você ler isso a cor do blog não for mais verde, então é porque deixou de ser meu papel de parede e eu talvez tenha a resposta.

Ao som de Pestilence - Out of the Body